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“Poesia não é para compreender mas para incorporar
Entender é parede: procure ser árvore.Manoel de Barros.







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sexta-feira, 18 de março de 2011

Fique pequenininha


"Menininha do meu coração
Fique pequenininha na minha canção"
Vinícius e Toquinho


Parado olhando para as flores, deixei minha mente divagar indo direto ao passado lembrando daquele sorriso de dentes faltosos que ela tinha vergonha de mostrar. Então falei da fada dos dentes para que ela ficasse feliz. Guardava seus dentinhos de baixo da almofada, esperando as moedas que eram por mim colocadas em segredo.
O barulho irritante que aquele balanço velho da pracinha fazia que eram abafados pelos seus risos medrosos, enquanto pedia-me para empurrar com mais força.
E como, inocentemente, ela me tirava do sério fazendo mil perguntas sem resposta, uma atrás da outra ou quando eu pedia "Para!" e ela continuava a fazer a mesma traquinagem.
Lembro das vergonhas que ela me fez passar revelando algum segredo constrangedor em meio aos meus colegas de trabalho, mas não era por mal e só percebia quando a olhava com olhar de repressão e ela fazia aquela carinha de "ops, fiz de novo." No final todos acabavam rindo e ela soltava aquela risada travessa.
Doeu-me tanto começar vê-la crescer. Quando as suas barbies já não tinham graça e muito menos passear comigo.
E eu a fazia pagar "mico" chamando-a de nenêm na frente das colegas ou contando algo que só nós dois faziamos que agora ela achava rídiculo. No final, ninguém ria-se e ela acabava emburrada.
Para mim, ela poderia ter continuado aquela coisinha pequena que me abraçava sujando toda minha camisa branca de chocolate, que eu não me importaria.
Ai, como ela foi ficando tão linda, tão vaidosa. O orgulho misturava-se com ciúmes, eu já não era o único homem na vida dela, via seus olhinhos brilhando por tal galã da tevê que acabei pegando antipatia.
Então veio a fase dos primeiros... Primeiro sutiã, primeira festa, primeiro beijo, primeiro namorado... Que por mim teria sido castrado quando o vi com ela, escondidos no jardim.
Eu querendo protegê-la e ela começando a me odiar. Como eu queria colocá-la em um convento para ela ser sempre a minha garota inocente e pura... Foi difícil entender que todos nós precisamos amadurecer e com ela não seria diferente, como ela ia descobrir as coisas se ela vivesse presa em minha gaiola?
Então, deixei que a vida a ensinasse um pouquinho...
As lágrimas começavam a se acomular em meus olhos quando ouvi "Pai? Tá na hora."
Olhando para ela nesse exato instante vejo como eu e a vida fizemos um grande trabalho. Agora ela estava pronta para fazer sua história com seu próprio pincel e sem que eu precisasse pontilhar mostrando por onde ele devesse passar.
Beijei-a na testa, susurrei em seu ouvido "Vai, minha menininha. Você já pode voar pra longe" e a deixei no altar.

Texto antigo, já postado no blog antigo. Estou de volta, aos poucos, com pc novamente vou entrar com mais frequência! 
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9 novidades:

Rodolpho Padovani disse...

Para nossos pais sempre seremos aquelas criancinhas, apesar de crescermos e tomarmos nosso próprio rumo, mais cedo ou mais tarde.
Muito bom o conto.

Beijos.

Eraldo Paulino disse...

Nâo conhecia, mas é uma bela velha novidade.

Bjs, querida. Que bom que estará mais por aqui.

Anônimo disse...

Que lindo conto ...
Filhos para os pais serão sempre
pequenas crianças.


Bjo Grande.

Nadine disse...

Concordo com os outros comentários, sempre seremos crianças x)
Lindo conto, adoro as coisas que você escreve.

É verdade, é muito bom ter Los Hermanos como inspiração <3
Beijo!

Anônimo disse...

Lindo. Um relato fiel de um amor sem incondicional.
Beijos

2edoissao5 disse...

a ordem natural das coisas.

Márcinha Mendonça disse...

Passando pra deixar um beijinho de boa noite e claro Desejar um Feliz dia Do Blogueiro,
que continue sempre assim, transmitindo tudo que há de bom, em ti e transfomando a nossa vida com palavras de amor, carinho, paz e motivação.
Otima semana e uma noite abençoada.
Beijos Meus :)

Anônimo disse...

É, ao lê-lo eu tive a sensação de tê-lo lido outra vez.

É a vida, a tua vida..

Lilly M. disse...

Quee lindoo'

Lembrei de minha mãe. Sento perto dela e fico quieta, ai ela nem espera, olha pra mim e diz assim: 'Nem vem me falar sobre seu casamento, enxoval, festa, eu nem quero saber...'
eu olho pra ela e dou risada.

Amei[tri] esse texto.
muitolindo.

beijinhos